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Black Friday: O preço real (ambiental e ético) dos “descontos imperdíveis”

Quando o consumo cego veste verde, continua a ser preto.
A Black Friday nasceu nos Estados Unidos como um dia de saldos antes do Natal. Hoje, transformou-se num fenómeno global que empurra pessoas e marcas para uma corrida ao “desconto imperdível”, mesmo que o planeta, os trabalhadores e os animais paguem o preço.
Na Sapato Verde, recusamos participar.
Não é por rebeldia gratuita. É por coerência.
O impacto real da Black Friday
Os números são claros:
- Só em 2023, o transporte de encomendas durante a Black Friday gerou mais de 400.000 toneladas de CO₂ adicionais (Population Matters, 2024).
- Cerca de 80% dos produtos comprados nessa data acabam no lixo em menos de um ano (Waste Managed UK).
- O excesso de devoluções e embalagens descartáveis multiplicam o lixo e o desperdício energético.
Em nome de quê? De um “desconto” que muitas vezes é ilusório, vários estudos (Which? UK, 2023) mostram que a maioria dos preços “em promoção” já tinha sido igual ou inferior noutras alturas do ano.
O mito da “Green Friday”
Nos últimos anos surgiram alternativas como “Green Friday” ou “Fair Friday”. À primeira vista parecem mais conscientes, mas… será mesmo assim?
Se o objetivo continua a ser vender mais, estimular o impulso e criar a sensação de urgência, o resultado é o mesmo. Chamar-lhe “verde” não muda o impacto. É greenwashing e do pior tipo, porque disfarça-se de ética.
O impacto sobre os animais
A lógica da Black Friday, produção acelerada, preços baixos, consumo massivo, alimenta diretamente as indústrias mais destrutivas para a vida animal.
- A produção em massa de calçado, roupa e cosmética de origem animal intensifica práticas de exploração e abate, frequentemente em países com pouca ou nenhuma regulação.
- A indústria do couro, por exemplo, é responsável pela morte de mais de mil milhões de animais por ano, segundo a PETA (2023), e pelo uso intensivo de produtos químicos tóxicos que contaminam solos e rios, afetando também comunidades humanas.
- O aumento da procura sazonal faz crescer o abate de animais, o transporte de peles e o uso de colas e tintas derivadas de origem animal. Em suma: quanto mais se compra sem consciência, mais sofrimento é normalizado.
Para quem acredita num estilo de vida vegan, alinhar com a Black Friday, mesmo sob o disfarce de “Green Friday”, é um contrassenso ético.
O que defendemos
Na Sapato Verde acreditamos que a verdadeira mudança está em comprar menos e melhor.
Não vendemos a ideia de que “mudar o mundo” se faz com um clique em saldos.
Defendemos:
- Escolhas ponderadas, não impulsivas.
- Produtos que duram, não que seguem a próxima tendência.
- Respeito pelo planeta e pelos animais, o ano inteiro.
Por isso, nesta Black Friday, as nossas prateleiras não terão descontos, terão propósito.
E se quiseres celebrar connosco, faz-lo de outra forma: reutiliza, repara, doa, compra local e consciente.